Mondrian

© Tonho Oliveira

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Olavo de Carvalho vive lavando roupa suja nas redes sociais

Olavo de Carvalho vive lavando roupa suja nas redes sociais, daquele jeito grosseiro que já virou uma marca pessoal de tal nível que seria injustiça classificar como conversa de lavadeira. Pois na madrugada desse sábado o guru de Jair Bolsonaro postou um vídeo descendo o sarrafo no próprio presidente. No vídeo, entre vários xingamentos e lamentando que Bolsonaro não o defende de ataques que diz estar sofrendo, Olavo fala em “derrubar a merda” do governo. No vídeo, o escritor reclama que Bolsonaro nada faz para defendê-lo e diz que o presidente apenas se “aproveitou” dele. Ele ainda afirma que Bolsonaro se comporta como um “covarde”.

O desabafo tem todo o jeito de ser conseqüência de algum desacerto de bastidores com Bolsonaro e demais figuras deste destrambelhado esquema de poder. Na lamentação da madrugada, o velho professor da Virgínia também faz duras críticas ao empresário Luciano Hang, de um modo que dá a entender que os dois andaram em tratativas sobre algo que não vem trazendo respostas satisfatórias do dono da rede de lojas Havan. Bem, certamente Olavo não deve estar esperando ideias filosóficas de Luciano Hang.

Vejam o que ele disse:

“Esse seu Havan vem aqui dizer: ‘ah, vou ajudar’. Vai ajudar o caralho, você vai comprar aviãozinho e se vestir de Zé Carioca, você é um palhaço. Isso que você é, eles têm toda a razão. É por causa de empresário como você que o Brasil tá nessa merda. Gente que não tem cultura e não gosta de quem tem. Bando de invejosos filhos da puta”.

Olavo anda bastante exasperado nos últimos tempos e certamente deve ter suas razões. Uma delas pode ser o rumo das investigações do inquérito das fake news, que pode ter descobertos segredos perigosos de figurões do bolsonarismo. Um dos suspeitos de financiar distribuição de fake news é o empresário Luciano Hang, por exemplo, que segundo o escritor foi até ele e disse “ah, vou ajudar”. Estará Olavo de Carvalho precisando que o dono da Havan lhe mande umas sábias ponderações sobre as idéias filosóficas de Aristóteles?

Do que se sabe das complicações do guru que está fulo da vida, uma delas muito séria é com Caetano Veloso, que teve uma decisão favorável em um processo movido contra Olavo pelo descumprimento de decisão judicial e não remover de suas redes sociais “mensagens que relacionem o cantor à pedofilia”. A multa milionária a ser paga com a derrota no processo é citada no vídeo em ele diz que vai derrubar “essa merda de governo”, caso Bolsonaro “continue covarde”.

A advogada de Caetano foi implacável. Anotou todas as vezes que o escritor continuou publicando as mensagens mesmo depois da decisão da Justiça pela retirada, comprovando o número de dias do descumprimento, cada um com sua devida multa. A conta ficou alta — R$ 2,8 milhões — e dificilmente Olavo conseguirá derrubar a decisão da Justiça em novo recurso. Está aí uma desconstrução que será difícil de ser feita com xingamentos ou mesmo fake news.

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Foto-de-Helmut-Newton-espelho© Helmut Newton

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Memórias de uma conje judiciária

ROSÂNGELA – Eu Moro com Ele – MORO estaria a escrever suas memórias do governo Bolsonaro. Em rigor seriam lembranças, porque cobrem um período curto, os 18 meses em que o marido foi ministro. Se escreverá de próprio punho ou com ghost writer, o colaborador profissional, como Thaís Oyama, ainda não se sabe.

O próprio punho interessa os futuros leitores, para tirar a cisma de que era o marido quem escrevia os textos da senhora Moro, ela  pseudônimo dele, “uma coisa só”, como Bolsonaro & Moro. Presunção legítima, pois nos textos os efeitos sempre brigam com as causas. possível maldade. No direito e na lógica, Moro só conhece a petição de princípio.

Como analista do casal, o Insulto sugere à futura autora que amplie o tema. Ousa mesmo sugerir o título. A historiografia viria enriquecida com as ‘memórias de uma conje judiciária’, que compreendesse o tempo de Sérgio Moro como juiz da Lava Jato – quando ele fez a desastrada opção de vida, causa instrumental da atual tragédia do Brasil.

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Sessão da meia-noite no Bacacheri

filme-juliaDuas amigas de infância trilham caminhos diferentes: a mais rica, Julia (Vanessa Redgrave), foi estudar em Viena e a outra, Lillian Hellman (Jane Fonda), se tornou escritora, que quando alcança a fama é convidada para ir a União Soviética.

Julia, que vive na Europa, lhe pede que contrabandeie dinheiro através da Alemanha para ajudar as vítimas do nazismo, que se encontrava em ascensão meteórica. A missão apresentava perigo, pois Lillian era uma intelectual judia que rumava para a Rússia comunista. As duas têm um rápido encontro e a escritora fica sabendo que Julia tinha uma filha. Logo após retornar para a América do Norte, Lillian fica sabendo que sua rica amiga foi assassinada. Ela então viaja para a Inglaterra na esperança de encontrar a filha de Julia, a quem tinha prometido cuidar.

Direção de Fred Zinnemann, 2h6m, EUA, 1977.

Gracias, Mara Lanzone

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Padrelladas

Quando nasci, a ideia de um segundo conflito mundial era impensável. Logo testemunhamos Varsóvia sendo destruída pelas chamas dos nazistas. Aquilo nos reportou a outra data, quando as fogueiras da Inquisição purificavam a Idade Média. Depois, as tochas dos fanáticos da KKK, e outra vez os nazistas com seu desfile iluminando as noites. Os erros da História tem a tendência de ser repetidos se não estivermos atentos.

No mundo inteiro os ovos da serpente estão sendo chocados, e também no Brasil, se bem que não mais por galinhas verdes. Essa lembrança de destruição me ocorreu desde que vi a floresta ardendo e percebi como a História costuma ser contada duas, três vezes, até que a Humanidade aprenda a lição.

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Na boca do mentiroso, o certo se faz duvidoso

A transparência dos dados públicos é dever legal das autoridades.

Quando os agentes públicos deixam de divulgar dados oficiais sobre a pandemia, praticam improbidade administrativa e cometem crime contra a saúde pública.

O governo trata as mortes da pandemia como inevitáveis e mera estatística, passando o problema para municípios e estados, porque não tem condições de resolver o problema de forma nacional.

O Executivo compra o apoio dos parlamentares do Centrão no Congresso Nacional. Em maio foram distribuídos 6 bilhões e 200 milhões de reais do dinheiro público para garantir fartas licitações e a reeleição de prefeitos e vereadores aliados.

As bancadas do boi (agronegócios), da bala (polícias e milícias) e da bíblia (alguns grupos neopentencostais), juntam-se agora a alguns setores da Igreja Católica que recebem verbas para suas emissoras radiofônicas e televisivas – e tudo está aí, para quem quiser ver e ouvir.

Nada diferente dos tempos da ditadura, na qual o autoritarismo foi abençoado pelos setores conservadores da igreja. Os recentes aumentos salariais do topo da carreira das forças armadas são um detalhe nisso tudo.

Agora é a vez da mentira oficial, do ocultamento, do atraso e da negação dos dados das vítimas da pandemia. O pior é a negligência no combate e na tomada de decisões objetivas e ágeis. Já assistimos este filme na epidemia de meningite em 1974.

A venda das estatais, a ciranda do mercado financeiro, a expansão do agronegócio e a devastação da floresta amazônica não podem parar. A reunião ministerial do dia 22 de abril comprovou isto.

Na democracia não existe segredo, tudo deve ser divulgado de forma ampla para que os cidadãos saibam o que se passa no Estado. A liberdade de imprensa cumpre papel importante nesta ampla divulgação. O atual governo combate os dois: a publicidade e a imprensa.

Nos regimes de exceção, o segredo é a regra. Sempre foi.

A indiferença oficial com a pandemia, a troca de dois ministros da Saúde, a característica ditatorial do Executivo e dos filhos do Presidente, a ampla base midiática do gabinete do ódio e das fake news, são uma realidade triste no Brasil.

Poucas instituições admitem isto. A maioria delas finge que nada está acontecendo.

Ensinaram os gregos que “A verdade é filha do tempo, não da autoridade”.

Assim, ocultar os números das vítimas da pandemia é mais um capítulo da tragédia que as instituições insistem em apoiar às custas dos recursos públicos. A ditatura está instalada e pisa na Constituição e nas leis. Quem ousa desafiá-la ou detê-la?

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Bolsonaro, o terror cívico

UM GENERAL no ministério da Saúde, um cabo na presidência da república e o governo não divulga informações atualizadas sobre os mortos na pandemia, cujo número aumenta todos os dias. É a guerra da informação manipulada, obsessão de presidente e filhos para remover empeços à reeleição, seu único objetivo e plano desde que assumiu o governo. O presidente não quer municiar a rede Globo, que faz noticiário dentro da objetividade possível.

A informação é tratada como estratégia de guerra. Um inimigo não pode saber da vulnerabilidade do outro. Foi assim na ditadura Vargas, na ditadura militar e no governo Lula, quando os gastos da primeira família eram assunto de segurança nacional. O regime Bolsonaro funciona como guerrilha de direita – bom esclarecer, porque os bolsoignaros são binários. Para eles, guerrilha é de esquerda, comunista; quanto a eles, não fazem guerrilha, fazem guerra santa.

A preguiça atávica do brasileiro ainda não levou à violência generalizada. Ainda. Mas temos a guerra civil em gestação, que todos toleram, na qual brincam de não acreditar. Está no ar, à espera que Jair Bolsonaro pressione o botão do detonador, como o terrorista que suicida os inocentes. Depois de algum tempo de quarentena espiritual, acabei por vê-lo na entrevista matinal de ontem. O susto de sempre derivou para o terror. Conheci o terror cívico, a índole de Jair Bolsonaro.

Que o presidente tem personalidade limítrofe da paranoia, os lúcidos já perceberam. É visível no ódio que expressa e no antagonismo com que vê inimigos por toda parte. Fato notório: temos um presidente que continua comandante de facção, que trata adversários como inimigos, a quem só aspira suprimir. Ao sonegar informação atualizada sobre a pandemia o presidente lixa-e para a política de saúde na federação para se fixar, como sempre, no autismo de seu interesse pessoal.

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Sessão da meia-noite no Bacacheri

Em 1978, Ron Stallworth (John David Washington), um policial negro do Colorado, conseguiu se infiltrar na Ku Klux Klan local. Ele se comunicava com os outros membros do grupo através de telefonemas e cartas, quando precisava estar fisicamente presente enviava um outro policial branco no seu lugar. Depois de meses de investigação, Ron se tornou o líder da seita, sendo responsável por sabotar uma série de linchamentos e outros crimes de ódio orquestrados pelos racistas.

Infiltrado na Klan|Direção de Spike Lee (2h16m), John David Washington, Adam Driver, Topher Grace. Estados Unidos|2018

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Fora do ar

Está fora do ar o site Coronavírus Brasil, do governo federal. Depois que o senhor presidente da República explicitou que o Ministério da Saúde passou a atrasar o boletim com o número de infectados e mortos pela pandemia, por causa do Jornal Nacional, da Rede Globo, mais essa. Na página está escrito que o site está em manutenção. Deve ser por causa do vírus bozo. Expressionante!

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Animal!

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Habeas covidis

OS ADVOGADOS BRASILEIROS fazem manifestos pelo isolamento social. Só agora, quando até o dono do Madero concorda com o isolamento social. Quando advogado entra na briga, pode saber que ela está perdida para um dos lados. Adivinhe para qual dos lados.

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Alice, Essa Maravilha

© Dico Kremer

Alice Ruiz, para quem não conhece as alices ruízes, é uma planta da família das violáceas, de estípolas foliáceas, sempre cercada de áureasalices e estrelas-da-manhã por todos os lados, cuja função é servir de alicerce para todos os aquis, deixando para cá os alis que agora gorjeiam e não gorjeiam como lá.

Há as alices ruízes que flutuam como as brumas de um letargo, que provocam os broquéis dos cruzesouzas e alimentam fonemas nos vocábulos, causando uma leve aliteração aos sábados, desde que simetricamente dispostos. São seres alígeros, descritos em prosa e verso, na sua mais transparente tradução, aliformes, alindados e, por tudo isso, alimento dos deuses.

As alices ruízes, poiemas, que provocam as tempestades no deserto, transubstanciam-se em primavera em pleno outono, numa galactopoese silenciosa antes do pôr-do-sol, contrariando a teoria da versificação. Outras, poietés, de imaginação inspirada, de três versos, dos quais dois são pentassílabos e um, o segundo, heptassílabo, são pequenas ilhas orientais que seduzem e deslumbram até prova em contrário.

Agrisalhadas, com o passar do tempo, são fontes de água lustral, a água sagrada dos antigos, preparada na pira dos sacrifícios, diferente das águalices comuns. Líquidas e certas, na Grécia, eram cultivadas aos pares para exposição de idéias sob a forma imaginativa, em noites de lua cheia. A especialidade das alices ruízes é a floração, desenvolvida com astúcia e elegância quando as palavras se encontram.

Há ainda os horóskopos, alices ruízes dedicadas às divindades, à religião, aos ritos e aos cultos, entre uma página e outra, pitonisas transparentes, cúmplices da situação dos astros. Todas as alices ruízes unidas, uma por todas e todas por uma, sempre, são moças polidas, levando uma vida lascada.

E, no país das maravilhas, enquanto você faz poesia, elas, poetas no país dos espelhos, ouvem a cotovia.

Revista Ideias 127|Travessa dos Editores

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A violência e a liberdade de expressão

 No direito norte americano vale o hate speech (free speech) ou a possibilidade do discurso do ódio.

Isto é, pode-se debater até as últimas consequências qualquer assunto. Em resumo, há a possibilidade do discurso do ódio contra grupos protegidos pelas leis.

Assim a liberdade de expressão nos EUA não encontra limites.

Esta é a razão pela qual temos naquele país os grupos da supremacia branca, os neonazistas, a Ku Klux Klan e tantos movimentos que pregam abertamente o ódio às instituições, a grupos étnicos e religiosos valendo da liberdade de expressão.

Na Alemanha, por exemplo, o neonazismo é crime.

Em 1997 cerca de 400 neonazistas foram presos na tentativa de comemorar dez anos da morte do número dois do regime nazista. A pregação da tortura também é crime na Alemanha, é inadmissível algum político pregar a favor da tortura ou de ditaduras, pois a imunidade parlamentar não alcança a prática de crimes.

 No Brasil, em janeiro de 2020 foram identificadas 334 células nazistas. Portar símbolos, fazer a apologia e propaganda ao nazismo, o racismo, a intolerância religiosa e a homofobia são considerados crimes.

A liberdade de expressão aqui não protege o discurso do ódio, nem em passeatas ou carreatas, muito menos, nas mídias sociais.

Um julgamento no Supremo Tribunal Federal enfrentou a liberdade de expressão de um autor que em livro negava o holocausto nazista. O STF definiu que a negação de fatos históricos não encontra proteção na liberdade de expressão, muito menos na pregação do ódio.

A liberdade de expressão não encontra proteção em grupos que pregam a quebra das instituições, difamando, injuriando e caluniando pessoas e autoridades. Estas condutas são crimes no Brasil.

A crítica é permitida e necessária para uma sociedade que se diga democrática.

Manifestações, carreatas e passeatas são um direito constitucional. Mas afinal, onde está a violência?

A liberdade de expressão no Brasil não protege a apologia à tortura praticada na ditadura militar, não protege a negação da história, não protege bandeiras de fechamento do Congresso Nacional, ou o ataque ministros do STF de forma pessoal e odiosa, ou a pregação do fim o regime democrático.

A liberdade de expressão também não protege o quebra-quebra em passeatas, não protege o excesso e a repressão violenta e arbitrária das polícias, não protege o discurso de ódio por segmentos neofacistas da extrema direita que ressurgiu no Brasil, não protege a intolerância religiosa em discursos televisivos e midiáticos, não protege a negação da ciência, ou de uma pandemia ou a negação da história.

A cláusula hate speech dos EUA não é modelo para o mundo.

Mais cedo ou mais tarde teremos um encontro com as injustiças acumuladas por séculos no Brasil, resultantes da concentração da renda, da escravidão, de regimes autoritários, e da ausência de políticas coletivas para a promoção de justiça social.

A violência do discurso não é menor que a violência dos quebra-quebras de passeatas, do assassinato de grupos minoritários ou de moradores inocentes das comunidades, que se tornaram banais, numa sociedade cada vez mais violenta, no Brasil.

A liberdade de expressão tem por finalidade atingirmos uma sociedade justa, não à barbárie.

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O urubu malandro

urubu malandroFazia uma semana que o urubu não comia. Voava, voava por toda a floresta e não encontrava nenhum bicho morto para matar a fome. Fraco e desolado, pousado num galho, lamentava sua sina quando chegou a raposa palitando os dentes.

– O que está acontecendo com você compadre, parece tão triste? – perguntou ela.

– É a crise – respondeu o urubu. – Há dias que não como nada. Parece que não há mais comida nesta floresta…

– Bobagem, compadre! Nunca teve tanta comida dando sopa por aí… Acabo de saborear uns lindos filhotes de perdiz. Estavam deliciosos.

– Nem me fala, comadre. Chega me dar água no bico!

– O problema compadre – continuou a raposa – é que você não tem coragem. É um frouxo, covarde, incapaz de matar um pinto para comer. Nem sei pra que servem vocês urubus nesta floresta! Nem deveriam existir. Preferem morrer de fome do que matar um filhote de um bicho pra comer!… Nem um filhote de perdiz vocês são capaz de matar pra comer. Nunca vi disto!

– É a nossa sina – respondeu o urubu humildemente, mas com uma ponta de irritação com a arrogância da raposa e já arquitetando um plano para comê-la, pra ela deixar de ser besta. E continuou

– Nossa sina é essa, comadre: só comemos o que os outros matam ou bicho morto por doença.

– Que nada, compadre. Vocês urubus são uns frouxos, uns molengas. Comigo não tem curécuré. Se estou com fome, nem penso duas vezes, mato os filhotes da perdiz, como uma galinha, roubo os ovos da pata na lagoa… Ficar com fome é que não fico.

– Por falar em lagoa – falou o urubu com os olhinhos brilhando com a ideia genial que acabava de ter.

– Acabei de passar por uma cheia de filhotes de gansos, marrecos, patos e, se não me engano, até filhotes de cisnes eu vi por lá…

– Filhotes de cisnes? Onde, onde? – quis saber a raposa agitada.

– Adoro filhotes de cisnes! É o meu prato predileto. E faz um tempão que não como um. Vamos lá? Talvez até eu pegue um pra você. É muito longe daqui essa lagoa?

– Não. Não é longe, não. É logo ali, atrás daqueles morros…

– E não tem perigo nenhum? Cães, guardas armados, essas coisas, compadre? Se tem cisnes deve ser um granja muito rica e deve ter guardas armados e cães ferozes…

– Que nada, comadre! Não vi nada disso. Não tem perigo nenhum – mentiu o urubu.

– Não observei nenhum movimento de cães nem de guardas armados. Vamos fazer assim: eu vou até lá e examino direitinho. Se não tiver perigo, pra gente não perder tempo, eu lhe aviso voando em círculos, dando voltas e mais voltas sobre a lagoa. Caso contrário, eu volto aqui e lhe aviso dos perigos, combinado?

– Combinado – concordou a raposa.

E assim foi. Minutos depois a raposa olhou pro céu e viu o urubu voando em círculos, dando voltas e mais voltas sobre a lagoa.

– Oba! é tudo comigo! – pensou faceira e se mandou correndo pra lá. E já foi chegando direto pra pegar os cisnes que, assustados, voaram em bando deixando os filhotes atarantados, entregues a própria sorte sem saber pra onde correr. De repente só se ouviu os estampidos dos tiros: catapumm, pum, pum… e a voz do fazendeiro exultando:

– Oba!… te peguei bandida! Te acertei em cheio, raposa assassina. Agora, em vez de almoçar meus cisnes, quem vão te comer serão os urubus…

E lá em cima o urubu malandro que assistia a tudo, vibrava, resmungando pra si mesmo:

– Desculpe comadre… Mas os covardes e molengas também precisam comer…

Moral: Todo urubu tem seu dia de raposa.

João Carlos Pacheco é publicitário e humorista, vive em Porto Alegre. Participou da antologia de humor QI 14, de 1975.

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